O Setor da Construção Ibérico e o Investimento em Infraestruturas no Contexto Europeu
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Até agora, neste século, o sector da construção na Península Ibérica (como são cada vez mais chamados Espanha e Portugal como um todo) tem estado sujeito a fortes tensões. Como se sabe, após os primeiros anos de grande (em certo sentido, poder-se-ia dizer excessivo) crescimento, o sector sofreu as consequências de uma queda profunda do investimento na construção.
Em que sentido se pode dizer que o crescimento de um determinado sector, ou da economia como um todo, é “excessivo”? Isso pode acontecer? A resposta é que sim, de facto, o crescimento pode ser considerado excessivo quando, cumulativamente ao longo de um conjunto de anos, excede a capacidade do sector em questão ou da economia como um todo. O resultado assume geralmente a forma de um desequilíbrio económico, refletido numa escalada dos custos de produção, dos preços dos ativos e na deterioração do equilíbrio externo.
Algo semelhante foi o que aconteceu com a crise financeira ocorrida no final de 2008. Esta crise, abrangente e com consequências que continuam a afetar fortemente a estabilidade política e social de muitos países, teve um impacto especial em Portugal e Espanha. Contudo, não nos devemos enganar: embora a crise financeira tenha sido o que marcou o início dos graves problemas económicos que se sucederam a partir de então, os desequilíbrios básicos foram gerados nos anos anteriores a 2008, sem que as políticas económicas levadas a cabo nesses mesmos anos contribuíram para neutralizá-los. Em vez disso, seguiu-se um padrão bastante comum: as crises económicas são frequentemente geradas por erros de política económica cometidos durante as fases ascendentes dos ciclos económicos. Sem que isso signifique, no caso em apreço, fugir às responsabilidades do próprio sector.
O sector da construção, tanto no subsector da construção como no subsector da engenharia civil, foi um dos protagonistas dos anos de forte crescimento, respondendo a uma grande procura de investimento, privado e público, gerada por sua vez devido a um ambiente de baixo interesse taxas, sem precedentes até então no caso das economias espanhola e portuguesa.
A partir de 2008, a queda do investimento na construção foi dramática, agravada, mais recentemente, por novos episódios de crise a partir de 2020, devido à pandemia e à guerra na Ucrânia. Possivelmente, esta queda no investimento, por sua vez, foi excessiva e poderá esperar-se uma normalização nos próximos anos. No entanto, será difícil conseguir uma participação do valor acrescentado gerado pelo sector da construção no Produto Interno Bruto próxima da dos primeiros anos deste século.
No entanto, o sector da construção continua a ser um sector chave nas economias ibéricas, por diversas razões. Em primeiro lugar, é um sector de mão-de-obra intensiva, em países com uma taxa de desemprego ainda elevada, especialmente no caso de Espanha. Em segundo lugar, existe ainda um défice infraestrutural significativo em algumas regiões (e devemos necessariamente destacar aqui a ligação ferroviária entre Madrid e Lisboa), bem como no sector da habitação. E, por último, é um setor em que as empresas ibéricas têm demonstrado uma certa vantagem comparativa, colocando-se em alguns casos em posições de destaque entre as empresas de construção a nível mundial. Este último ponto é especialmente importante, pois é o que tem permitido às empresas de construção compensar a queda do investimento em construção em Espanha e Portugal com um grande aumento da sua atividade internacional.
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